O aluno que manifesta dificuldades na aprendizagem, nem sempre terá, necessariamente, falhas cognitivas. Quantas vezes ouvimos pais e professores se questionando por que a criança ou adolescente não vai bem na escola, sendo ele tão esperto e inteligente. A maioria dos alunos com dificuldades de aprendizagem têm estruturas depressivas do seu funcionamento psíquico, isto é, desacreditam em seu próprio potencial e usam expressões do tipo: “sou burro”, “não faço nada bem”. Estes alunos apresentam pouca tolerância à frustração, desistindo rapidamente, à primeira contrariedade.
São inúmeras as causas que levam o aluno a apresentar dificuldades na aprendizagem, entre elas: baixa autoestima, problemas familiares, segredos familiares (há crianças que não conhecem bem a sua própria história, como poderão, então, conhecer o mundo, através da aprendizagem?). Quando a relação professor-aluno não vai bem, este também pode ser um agravante para o desinteresse do aluno. Em idade escolar, a capacidade de aprendizagem é uma das primeiras a ficar afetada sempre que haja uma perturbação emocional. Nascimentos, mortes, brigas ou separações podem afetar diretamente a aprendizagem do aluno, tendo em vista que ele se sente inseguro e, consequentemente, não consegue aprender.
Percebem que, quando mudamos o foco de análise da dificuldade de aprendizagem do indivíduo para a relação, levando em conta a influência da história individual, familiar e do contexto escolar, vemos que a situação é muito mais complexa do que uma falta de vontade do aluno, simplesmente? Ou melhor, devemos nos questionar, se há falta de vontade, qual o motivo?
Aos pais, sugiro que ofereçam ao filho a sensação de ser gostado, demonstrem o gosto de conhecer; despertem no filho o desejo de crescer e progredir. Sugiro que ouçam seus filhos, que lhes ofereçam ajuda, não apenas críticas vazias, e que estabeleçam limites com relação à hora de estudo, saída com os amigos…
Penso também que seja fundamental que os professores tenham um espaço de interlocução, possibilitando-lhes que se apropriem de referenciais teóricos que favoreçam a ressignificação de suas práticas pedagógicas, possibilitando que sua atuação possa ser menos “pesada”. Afinal, sabemos que não é fácil, também para o professor, lidar com os novos alunos da contemporaneidade e que a escola precisa se adaptar “ao novo mundo”.
Em todas as circunstâncias, é imprescindível procurar compreender a causa desta falta de interesse do aluno pela escola. A busca por um profissional especializado poderá ser determinante para que o especialista consiga auxiliar a família, a escola e o aluno a lidar com a situação. Vale ressaltar que AFETO, LIMITES E DIÁLOGO são sempre uma bela combinação para lidar com nossas crianças e adolescentes.”
Fabíola Scherer Cortezia, psicóloga do Espaço Dom Quixote