Este assunto pode parecer um pouco maçante, mas quanto mais lemos, estudamos, mais vamos nos apropriando sobre determinado assunto, escrito isso, ás vezes fica difícil colocar na prática o que vemos na teoria. Com isso, a primeira infância é primordial para todo o desenvolvimento humano e com a nossa atual situação global, foi criado pelo Comitê Cientifico do Núcleo Ciência pela Infância (NCPI) um estudo chamado “Repercussões da pandemia do Covid-19 no desenvolvimento infantil ” que aborda os efeitos da pandemia sobre as crianças. Trarei apenas alguns pontos para serem pensados e quem sabe, poder clarear algumas dúvidas que possam surgir conforme as demandas.
Na China estudos mostram um aumento em relação à dependência das crianças nos pais, desatenção, preocupação, problemas no sono, falta de apetite, pesadelos, agitação e desconforto. Muito se fala sobre a importância da rotina, ter horários para uma leitura, desenho, jogos, brincadeiras, tarefas da casa, pois quando a criança não sabe o que pode acontecer, isso aumenta significativamente sua ansiedade e nível de estresse. Trabalhar em relação a autonomia é uma chave importante para diminuir os efeitos negativos, porque uma criança que acredita na sua capacidade de conseguir sozinha, seja realizando uma tarefa ou tomando uma decisão, está trabalhando a sua persistência, continuará mesmo que seja difícil, e continuará aprendendo a manter o controle da situação de forma eficaz e terá um senso de pertencimento, onde se sentirá aceita e isso contribuirá para formar relações seguras e estáveis. Na prática é para os pais não realizarem as tarefas escolares pelo filho, deixá-los desconexos para não sentirem as consequências negativas da pandemia, seja não conversando sobre as notícias, seja dando a criança tudo o que ela pede, compensando por algo que ela nem sabe que está perdendo.
As situações de incerteza para as crianças pode desencadear um comportamento agressivo, é uma resposta esperada quando há um período de estresse grande, como esse que estamos vivendo. O cérebro fica ativo em áreas de resposta ao medo, por exemplo, e em pequenas situações de confronto o cérebro reconhece como ameaça e a resposta é muito maior do que em uma situação sem o isolamento social. O adulto deve auxiliar a criança a reconhecer as suas emoções e compreender que é um período diferente, acolher ao máximo o que o filho demonstra e ir nomeando o que acontece.
Muitas crianças conhecem a situação da pandemia amplamente e os adultos podem menosprezar a capacidade de compreensão do filho, deixando de responder as dúvidas e com isso, pode haver pensamentos em relação à morte, se os pais podem ficar doentes, medo de quando um dos pais chega mais tarde do trabalho, se os avós não as amam mais por não estarem visitando e na maioria das vezes essas questões são jogadas na nossa frente não com palavras, mas sim no comportamento, um filho que briga, um filho que só quer dormir, um filho que se recusa a dar um abraço, esses exemplos nos mostram que a criança está pedindo a nossa ajuda e se este período está difícil para ti, adulto, saiba procurar um auxílio profissional. Este isolamento social vai deixar as suas marcas, mas podemos lidar de formas mais saudáveis.
Fernanda Rizzardo, psicóloga.