Tempo de ser criança

Tempo de ser criança

Era uma vez uma criança feliz que corria pelo pátio criando brincadeiras mirabolantes usando galhos, caixas de papelão, sucatas e que tinha a impressão de que nunca iria crescer. Hoje a história das nossas crianças é bem diferente, elas possuem uma agenda, um motorista e um responsável para cada compromisso marcado, que personagem principal está se desenvolvendo nesta história? Cada criança precisa ter o seu tempo, o seu ritmo, de muito afeto e que seja respeitada a sua forma de aprendizagem, afinal, somos todos diferentes.

Cada vez mais estamos considerando apenas o que é colocado como um comportamento padrão para cada etapa do desenvolvimento e tudo que foge deste “normal”, nós generalizamos em diagnósticos. O discurso médico tornou-se um regulador entre o que é patológico e o que é normal, onde convoca a medicina a reeducar as famílias nestes processos urgentes e em muitos casos medicalizando uma questão que poderia ser ajustada conforme a criança cresce e vai adquirindo novos recursos para lidar com os desafios. Claro, a nossa medicina voa e com os estudos, junto às medicações, previnem muitas doenças, diminuem sintomas e faz tratamentos mais eficazes.

O conceito de infância é relativamente novo na nossa história, mas atualmente estamos retrocedendo, pois cada vez mais observamos como estamos criando as crianças para serem mini-adultos, aqueles que desde bebê precisam dar conta das demandas. Em contra-partida está sendo colocado uma muralha em volta de cada filho, pois com a falta de disponibilidade dos pais, eles precisam se certificar de que nada vá acontecer a criança, com isso isola-se acontecimentos ruins, mas também os bons, aquelas lembranças de infância que nunca mais serão experienciadas, pois a infância é um tempo mágico e não será reproduzida artificialmente.

O tempo de ser adulto é grande, passa mais devagar, depois ainda podemos ter a chance de viver uma velhice curtindo a vida com 80, 90 anos e o tempo de ser criança? Este é a base para a vida, aos mais privilegiados aproveitam até os 12 anos, mas já observamos uma geração que vive a infância até os 9, 10 anos, depois já entram outros interesses e o brilho no olhar vai ser perdendo, vai ficando mais sério, mais padronizado, perde o gingado que a criança tem. Como adultos, vamos trazer a nossa criança interior para a nossa vida diária e com isso trazer mais leveza, mais doçura e menos amarras. Essa é uma grande contribuição aos pequenos que colorem o nosso mundo, permitir que cresçam no seu tempo. 

Fernanda Rizzardo, psicóloga.

02 de Agosto de 2019

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