Os contos de fadas sempre foram transmitidos de geração em geração oralmente, nas rodas de conversas dos adultos. Eles fazem parte do folclore europeu e foram adaptados conforme cada região, por isso tantas versões diferentes das mesmas histórias.
Alguns escritores registraram estas narrativas e as transformaram nos contos de fadas como os conhecemos hoje. Escritores como Charles Perrault, da França e Jacob e Wilhelm Grimm, da Alemanha resgataram as histórias das vilas e cidades para colocá-las no papel. Já Hans Christian Andersen criou suas histórias, a partir da sua imaginação.
A importância dos contos de fadas transcende o simples resgate da história e do folclore de um povo, de uma época. A audição dos contos de fadas ajuda a criança a lidar com seus medos, frustrações, tristezas, etc, pois permite que elas vivam os conflitos através da fantasia e imaginação oportunizados pelos contos. As crianças ao ouvirem os contos de fadas transportam-se da realidade para a fantasia, onde podem experimentar serem heróis, princesas, bruxas e lobos maus, o que as fascina e ajuda a vivenciar sentimentos, elaborar conflitos e superar medos. Muitas vezes os adultos querem “enfeitar” as histórias, pulando as falas de seres malvados e pavorosos, temendo assustar as crianças, mas é justamente este o momento preferido delas, pois podem, na imaginação, matar o lobo mau que as atormenta, podem prender o bandido que as assusta. Impedir que a criança lide com estas histórias dificulta que ela supere os medos que sente e que supere os conflitos da realidade.
A modernidade e a indústria do entretenimento adaptaram os contos de fadas e os transformaram em filmes e desenhos, cheios de cores e movimentos. As crianças gostam, principalmente pelos efeitos visuais e auditivos, mas eles não podem e não devem substituir a leitura das histórias.
Para Bruno Bettelheim, psicanalista, os contos de fadas exibidos em filmes e desenhos inibem a imaginação infantil, porque recebem elementos do ilustrador, tornando-se assim uma experiência pessoal do ilustrador.
Para ele, os contos de fadas deveriam ser lidos sem mostrar-se as imagens, permitindo assim, que a criança imagine a cena, os personagens, as cores e os movimentos. Ao antecipar a imagem podemos estar empobrecendo a criatividade da criança, essencial para sua criação de histórias, de desenhos, de textos e até de interpretação. A imagem é importante, principalmente na questão estética, de beleza e uso de cores, mas ela não supera o texto, rico em elementos psicológicos e culturais.
Em casa ou na escola, o momento de ler histórias para as crianças deve ser feito com carinho e dedicação, pois representa um momento de intimidade, de afetividade e de construção de conhecimentos e elementos para a aprendizagem integral dos pequeninos.
Janete Cristiane Petry
Psicopedagoga do Espaço Dom Quixote