Muitos alunos e alunas vivem, neste momento, a expectativa pelo resultado de um ano de estudos. Nem todos os resultados serão de alegria, alívio e vitória por mais uma etapa vencida. Alguns alunos terão que lidar com a reprovação e o sentimento de frustração. Para muitas famílias este resultado provoca desorganização e mal-estar. É muito comum neste momento a famosa caça às bruxas ou bruxos: quem é o culpado? Professores, alunos, pais, todos se responsabilizam e são responsabilizados.
É importante que um resultado como a reprovação não seja visto, apenas, como uma derrota, um ano perdido, uma vergonha, mas como um alerta de que algo aconteceu, de que algo está errado e precisa mudar. Nesta hora, culpar ou responsabilizar uma das pontas do processo de educação não modificará o resultado e nem aliviará o sentimento negativo que se instala. É preciso refletir sobre a reprovação de um filho ou uma filha e planejar metas para obter um melhor resultado no ano seguinte.
A família tem um papel muito importante no processo educativo dos filhos, incentivando e organizando a rotina de estudos, valorizando a escola e a aquisição de conhecimentos, acompanhando o processo e os resultados dos filhos através dos cadernos, provas, conversas, momentos de estudo. Fazer parte da comunidade escolar não significa apenas matricular o filho numa escola; significa participar, na medida do possível e com esforço, das reuniões de pais, agendamentos de conversas com professores, festividades escolares.
Quando uma criança ou adolescente percebe os pais interessados e participativos na escola, sente-se valorizado e incentivado a ter um comprometimento maior com o seu estudo. Da mesma forma, os educadores que percebem a família valorizando o trabalho e esforço dos professores e da escola sentem-se mais comprometidos e respaldados. Este envolvimento da família cria um canal aberto para família e escola, buscarem soluções para as dificuldades de aprendizagem que possam ocorrer durante o ano letivo.
Cabe ainda investigar se a reprovação é fruto de um desajuste escolar — falta de estudo, não realização de tarefas e não cumprimento de prazos para sua entrega, má postura no ambiente escolar que provoca indisciplina, descomprometimento e descaso — ou, ainda, se há uma dificuldade de aprendizagem. Quando há suspeita de dificuldade de aprendizagem, é importante investigar com profissionais capacitados para iniciar um trabalho de recuperação e resgate de habilidades cognitivas e de autoestima.
Muitas podem ser as dificuldades de aprendizagem que impedem o sucesso imediato e esperado na vida escolar. Questões biológicas, psicológicas e sociais precisam ser investigadas para construir uma proposta terapêutica adequada e ajudar a criança ou adolescente a enxergar possibilidades de superação das dificuldades. Em alguns casos, este acompanhamento é temporário, tratando de questões bem pontuais e práticas; em outros, o acompanhamento é transdisciplinar, com vários profissionais, e trata de questões mais funcionais, subjetivas e com comprometimento maior.
É importante que a escola e a família estejam atentas a todos os sinais demonstrados durante o ano. Resultados negativos nas avaliações, incapacidade de compreender as informações, desatenção em sala de aula, comportamento inadequado, mudanças emocionais, mal-estar físico e desmotivação com a escola podem ser indicadores de que algo não está bem e precisa ser investigado com mais atenção. Nestes momentos, a conversa entre família e escola é fundamental para tentar compreender o que está acontecendo e buscar ajuda durante o ano letivo.
Cabe também ao aluno o comprometimento com os estudos, a dedicação e organização de tarefas e o envolvimento em sala de aula, buscando compreender e participar efetivamente das propostas de trabalho apresentadas pelos professores. Manter uma rotina de estudos em casa — revisando e estudando —, buscar ampliar seus conhecimentos com mais informações, alimentar-se adequadamente, realizar atividades físicas ou de lazer com os amigos e ter uma boa noite de sono são elementos indispensáveis para obter sucesso na vida escolar.
Se o resultado de um ano letivo for a reprovação, é importante encarar a situação com seriedade e compreensão. Mudar comportamentos, assumir responsabilidades e buscar ajuda são compromissos importantes e indispensáveis para não repetir este resultado. Deve-se cuidar para que a reprovação não acabe com a harmonia da família, não rebaixe a autoestima do filho/da filha e não destrua a relação com a escola, mas seja entendida como uma nova oportunidade para refazer o caminho, aprender o que não foi aprendido, compreender-se melhor e desenvolver as competências e habilidades necessárias para uma boa qualidade de vida em todos os âmbitos.
Janete Cristiane Petry
Psicopedagoga do Espaço Dom Quixote